Curativos especiais com Prata

Publicado em 16 de janeiro de 2015

Curativos Impregnados com Prata e com Ibuprofeno (MRD)

Nas queimaduras de segundo grau ou de espessura parcial e feridas superficiais, os princípios do tratamento se baseiam na reepitelização do tecido de revestimento a partir da reserva epitelial dos anexos dérmicos localizados no bulbo capilar onde estão presentes inclusive células tronco epiteliais. O princípio básico é não agredir mais a pele, ou seja, propiciar um ambiente adequado para a reepitelização, preferencialmente estéril, úmido e protegido do contato com o meio externo para a restauração do epitélio estratificado de queratinócitos a partir da membrana basal. Além da resposta fisiológica, o controle de microorganismos no leito da ferida favorece a cicatrização, uma vez que a presença e a proliferação de bactérias e fungos em feridas agudas pode rapidamente contaminar e retardar o processo de cicatrização.

Assim, após os cuidados gerais no atendimento inicial, a atenção deve ser voltada ao tratamento tópico da ferida, com escarotomias, se necessário, e limpeza da superfície, debridamento e remoção de flictenas rotas, se for o caso, e aplicação de curativo, cujo componente primário deve oferecer condições ideais para a reepitelização, além de permitir que a ferida seja inspecionada a cada 48 horas para avaliação do processo de cicatrização e aparecimento de infecções. Atualmente, a escolha dos curativos e a aplicação de antimicrobiano tópico variam entre os centros de queimados em todo mundo, dependendo da disponibilidade tecnológica e econômica de cada país.

Nesse universo de curativos para tratamento de feridas em geral, a prata como agente antimicrobiano vem sendo utilizada para desinfecção desde a idade antiga, com referências da civilização grega utilizando moedas de prata associada à conservação da água ao armazenamento de líquidos. A partir do século XVII a prata passou a ser utilizada terapeuticamente para o tratamento de feridas e diversas doenças, como conjuntives, úlceras e outras doenças infectocontagiosas.

A prata é biologicamente ativa na sua forma solúvel de Ag+ ou Ag0 clusters, que é a forma iônica da prata, presente no nitrato de prata, sulfadiazina de prata e outros curativos com combinados com prata. As queimaduras, por sua vez, vêm sendo tratadas com diferentes produtos à base de prata: inicialmente com a solução de nitrato de prata 0,5%, seguindo os cremes com sulfadiazina de prata, e atualmente, representando a evolução desta modalidade terapêutica, os curativos com gaze, rayon ou membranas de celulose impregnados com prata nas suas mais diferentes formas.

O primeiro agente a ser introduzido no manejo das queimaduras em 1960 foi nitrato de prata (AgNO3) na forma de solução de nitrato de prata a 0,5%, seguido pela sulfadiazina de prata (Ag-SD), em 1968. O AgNO3 é menos utilizado na atualidade, enquanto a Ag-SD tem sido importante no manejo das queimaduras há anos. Introduzida no final da década de 60, a Ag-SD revolucionou a conduta terapêutica, com uma redução significativa da incidência de infecção e sepse nos pacientes. A Ag-SD é a combinação do AgNO3 com sulfadiazina, um agente antibiótico que age na parede bacteriana. Comercializada na forma de 1% de creme ou suspensão aquosa, é utilizada para o tratamento tópico de queimaduras por possuir uma atividade antimicrobiana bastante ampla.

Mesmo sendo um dos tratamentos mais utilizados nos centros de queimados em todo o mundo, a Ag-SD tem uma desvantagem: sua curta ação, que requer reaplicação diária. Dolorosa e trabalhosa, a remoção da Ag-SD residual exige que o leito da ferida seja lavado para a aplicação de uma nova camada do produto. As limitações dos tratamentos históricos vêm impulsionando novas tecnologias, com curativos caracterizados pela atividade bactericida mais duradoura no leito da ferida, pela menor toxicidade para as células lesadas na queimadura e com capacidade de recuperação.

A busca por novos tipos de tratamento se deve a diversos fatores, como a maior resistência das bactérias aos antibióticos. O desenvolvimento de tecnologia polimérica resultou na disponibilização de um grande número de curativos contendo prata. Compostos de uma cadeia polimérica impregnada com sal ou metal de prata, eles apresentam grande espectro antimicrobiano contra bactérias Gram positivas e Gram negativas. Inovadoras, estas alternativas para o tratamento de queimaduras trazem a vantagem de que a prata é incorporada no curativo, e não mais aplicada como um sal separado, composto ou solução.

Na Clínica Cepelli, o curativo antimicrobiano utilizado incorpora todas estas novas tecnologias. Como esponja altamente absorvente para exsudatos e transudatos, o curativo permite a absorção vertical do exsudato evitando a saturação da espuma; a manutenção de um ambiente úmido para aumentar a cicatrização e um amplo espectro antimicrobiano, com baixo potencial de resistência, associado à baixa toxicidade; ação rápida, sem provocar irritação ou sensibilização; além de não promover aderências pela superfície de contato do curativo com a ferida.

Os curativos da linha Biatain incluem esponjas impregnadas com prata utilizadas para queimaduras e feridas infectadas como úlceras e escaras, e esponjas com ibuprofeno para feridas limpas e dolorosas devido à exposição de terminações nervosas da derme ou processo inflamatório intenso. Estes curativos aliam dos agentes antimicrobianos ou analgésicos às vantagens da esponja de polímero altamente absortiva, composta por três camadas sobrepostas, sendo que a central de hidropolímero se expande delicadamente à medida que absorve o exsudato, enquanto as demais, formadas por tecido não-aderente, evitam a agressão aos tecidos na sua remoção. Sua principal indicação é para feridas muito exsudativas, pois além da capacidade absortiva mantém um ambiente úmido que favorece o processo de cicatrização e não requer cobertura secundária.

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