Matrizes Dérmicas – Cepelli
As matrizes de regeneração dérmica são recursos de engenharia tecidual que permitem a regeneração da derme a partir da migração e diferenciação de células do próprio organismo, com a formação de uma nova derme de características morfológicas e fisiológicas iguais à da derme normal. Da mesma forma se inicia o uso clínico de cultura de células epiteliais para implante sobre o leito das feridas e sobre as matrizes dérmicas, com diferenciação de células mesenquimais tronco em linhagem epitelial. Os avanços são tão significativos que nos trazem a convicção de que o primeiro tecido a ser produzido artificialmente para a substituição de órgãos será a pele, antes mesmo do sangue!
Outra tecnologia também vem mudando a forma de tratamento e principalmente de resolução de queimaduras e feridas. Os dispositivos de pressão negativa otimizam o resultado da incorporação dessas matrizes dérmicas em até 100%, além de promover o fechamento de outras feridas e úlceras que sem o benefício deste recurso podem levar meses para cicatrizar, ou nem vir a cicatrizar.
Finalmente, para aquelas lesões que não justificam uma intervenção cirúrgica, e que são tratadas com curativos, pomadas e diversos agentes tópicos, existem hoje as esponjas altamente absortivas impregnadas com prata e com antinflamatórios. Curativos “inteligentes”, eles absorvem os líquidos do exudato produzido pelas feridas e, ao mesmo tempo, mantêm um ambiente úmido, ideal para a cicatrização. Por liberarem prata e antinflamatórios no leito da ferida, também são eficazes no controle da infecção e da dor do paciente. Como benefício adicional, ressalta-se a possibilidade destes curativos permanecerem no leito da ferida por sete dias ou mais, o que implica em conforto e qualidade de vida durante a recuperação.
Matriz de regeneração dérmica (MRD)
O tratamento de queimados demanda o envolvimento de uma equipe multiprofissional. A perda de tecido dérmico e epidérmico, entre outras dificuldades, deve ser uma preocupação prioritária, visto que o indivíduo queimado fica suscetível a infecções, desidratação, variações térmicas e outras ameaças à vida.
Entre os grandes avanços no tratamento desses pacientes, pode-se citar a reposição hídrica adequada no primeiro atendimento, o uso de antimicrobianos tópicos, a excisão tangencial precoce e a cobertura das áreas desvitalizadas com substitutos de pele, que permitem uma melhor recuperação da função e aparência deste órgão.
As queimaduras de espessura superficial, como as provocadas pelo sol, afetam apenas a epiderme. As de espessura parcial superficial, por sua vez, atingem a epiderme e a derme papilar e costumam formar bolhas. Queimaduras de espessura parcial profunda acometem camadas profundas da derme, costumam ter cor vermelho-brilhante ou
amarelo-esbranquiçado e não empalidecem à digito pressão. As queimaduras de espessura total atingem toda a espessura da pele e podem chegar até a profundidade óssea. Apresentam cor branco-nacarada ou carbonizada e não são dolorosas, pois as terminações nervosas são destruídas.
Diversos tratamentos são propostos de acordo com a espessura de pele acometida e a área corpórea total queimada. Queimaduras de espessura parcial superficial costumam responder bem ao tratamento local com curativos permanentes de prata (citados acima), enquanto as queimaduras de espessura parcial profunda ou espessura total podem necessitar de excisão tangencial dos tecidos desvitalizados e sua cobertura.
Entre as coberturas cutâneas destacam-se os substitutos de pele, conhecidos como matrizes de regeneração dérmica, que têm sido desenvolvidos ao longo das últimas décadas. Alguns estudiosos nos ajudam a classifica-los:
Kumar19, em 2008, sugeriu uma nova classificação dos substitutos de pele (abaixo) substituindo a que era vigente, de Balasubrami et al., que não se aplicava a todos
os produtos disponíveis e freqüentemente causava dúvidas.
Classe I – Curativos temporários impermeáveis:
Não têm nenhum componente epidérmico e são essencialmente impermeáveis. Agem como barreira mecânica à invasão bacteriana e
reduzem a perda líquida por evaporação. Subdividem-se em:
1) Materiais de camada única:
a) Curativos naturais: membrana amniótica, casca de batata.
b) Curativos sintéticos:
(1) Membrana de polímeros sintéticos: Tegaderm®; Opsite®; Dermafilm®.
(2) Espuma ou spray polimérico.
2) Materiais de camada dupla de engenharia de tecidos: Transcyte® – malha de nylon,
coberta por colágeno, semeada com fibroblastos neonatais cultivados in vitro.
Classe II – Substitutos de pele duráveis de camada única:
1) Substitutos epidérmicos: Apligraft®, indicado para tratamento de úlceras crônicas.
2) Substitutos dérmicos: componentes dérmicos de pele processada, ou fabricados com
colágeno e outras proteínas de matriz. Produzem cicatrizes de melhor qualidade e
minimizam as chances de contratura. Incluem:
a) Matriz dérmica bovina: Matriderm® – constituído por proteínas extracelulares
(colágeno e elastina). É usado em queimaduras de espessura total, associado a enxerto
de pele.
b) Matriz dérmica humana: Alloderm® – matriz dérmica acelular com componentes biológicos naturais, derivada de pele humana de cadáver.
Classe III – Substitutos de pele complexos:
1) Enxerto de pele: aloenxerto (cadáver), xenoenxerto (suíno).
2) Pele de engenharia de tecidos:
a) Integra®: é uma matriz tridimensional formada por colágeno bovino e
glicosaminoglicana, com camada externa de silicone.
b) Biobrane®: camada externa de silicone e malha de nylon interna com colágeno.
Ainda há produtos como Epicell® e Laserskin®, cujo princípio é a cultura de
queratinócitos autólogos.
Na Clínica CEPELLI, a Matriz de Regeneração Dérmica utilizada é da marca Integra®. Além de ser a mais utilizada em todo o mundo e com o maior número de publicações médicas a respeito, ela já vem sendo provada há 10 anos pelo corpo clínico da CEPELLI, que considera seus resultados estéticos e funcionais superiores aos demais produtos disponíveis. Essa matriz é produzida pela Integra LifeSciences Corporation em Plainsboro, de New Jersey, é aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos e tem importação autorizada pela Anvisa no Brasil.
A Matriz de Regeneração Dérmica (MRD) Integra® é um substituto de pele complexo, permanente, de dupla camada. A camada dérmica consiste em uma matriz de fibras de colágeno bovino e condroitina-6-sulfato, uma glicosaminoglicana derivada de cartilagem de tubarão. A camada epidérmica consiste em uma fina camada de silicone. O colágeno e a glicosaminoglicana da camada de substituição dérmica são porosos e promovem a formação de uma neoderme, pois servem de matriz para a infiltração de fibroblastos, macrófagos, linfócitos e células endoteliais capilares. A camada de silicone, que substitui a epiderme, controla a perda de umidade da ferida. Deve ser trocada por um enxerto autólogo de pele fina assim que a neoderme atingir sua maturação, apresentando uma coloração amarelo-alaranjada.
A MRD foi inicialmente desenvolvida por Burke e Yannas, no início da década de 80, porém somente em 1996 foi aprovada para comercialização pelo FDA, para a utilização no tratamento de queimaduras graves e para cirurgia reconstrutiva. Em 2002 a FDA estendeu a aprovação do Integra® para a correção de seqüelas de queimaduras.
Com a aprovação da Anvisa, as matrizes de regeneração dérmica vêm tento seu uso sistematicamente ampliado no Brasil desde 2002. São utilizadas na exérese de nevus congênitos gigantes, em áreas queimadas que necessitam de uma pele de melhor qualidade (como pescoço, grandes articulações, mãos e mamas) e em grandes queimados submetidos à excisão tangencial sem área doadora suficiente para o enxerto autólogo.
Além da utilização da MRD apresentar resultados superiores às demais opções de substitutos de pele, ela oferece outras vantagens: não apresenta resposta imunológica, é estéril, pode ser armazenada por longos períodos, a técnica de implante é relativamente simples, o enxerto epidérmico é fino (menor morbidade da área doadora), e acompanha o crescimento da pele, apresentando resultados próximos da pele normal.
A aplicação de um substituto dos aspectos funcionais e estéticos da pele. O padrão ouro para a cobertura de defeitos de espessura total são os enxertos autólogos.
Esta membrana de dupla capa para a substituição da pele foi desenhada para fornecer uma imediata cura de feridas e uma regeneração permanente da derme.
Possui um componente interno e permanente e outro mais externo e temporário. A capa interna de substituição dérmica se compõe de uma matriz porosa tridimensional de colágeno e glycosaminoglycano entrecruzados. A capa temporária de substituição epidérmica constitui-se de silicone e cumpre a função de evitar a perda de fluidos e atuar como barreira contra o ingresso de bactérias. essa capa é substituída posteriormente por enxertos de epiderme própria do paciente. Ideal para sequelas pós-queimaduras, enxertia de pele em queimaduras profundas, feridas limpas e outros. Cutâneo adequado desempenha um papel importante na restauração.